Mulheres Guerreiras“Por ser a mulher também, vítima das mais diversas atrocidades e violências, eram tolhidas e, por serem minimizados os crimes sofridos, ficavam extremamente obscuros ou no   anonimato”.


   





As mulheres que participaram de movimentos políticos e revoluções, não concordando com a repressão, guerreando, lutando contra as injustiças e por causas sociais, entraram para a história pelo espírito de liderança e perseverança, porém, todas foram severamente punidas. Muitas mulheres no Mundo todo foram presas, martirizadas, e na maioria das vezes, pagaram pelos atos de bravura e coragem, com a vida. Conforme se pode ler, um pouco sobre as vidas destas grandes mulheres, que pela repressão, foram levadas para os cárceres.
Em 1231, surge o Tribunal da Inquisição.
Joanna d’Arc- 1431
Heroína Francesa que se tornou santa. Liderou as tropas de seu País na “Guerra dos Cem Anos” “guiada por vozes divinas”. Ajudou o exército Francês à Vitória contra os ingleses. Em 1430 foi presa vendida pelos borgulhões e
entregue aos ingleses. Acusada de heresia pelo Tribunal eclesiástico, é condenada a morrer aos 19 anos de idade, queimada como herege pelos Ingleses.
Felipa de Souza
Portuguesa que veio morar no Brasil, onde há 410 anos, em 24 de janeiro de 1592, foi condenada pela Inquisição por lesbianismo.
Vivia em Salvador (BA), quando, em 1591, com 35 anos, ocorreu à primeira visitação do Tribunal do Santo Ofício. Era alfabetizada, costureira e apesar de casada com um padeiro, mantinha relações duradouras com outras mulheres. Sofreu severas punições após ter confessado sentir "grande amor e afeição carnal" por suas companheiras. Segundo os registros da época, foi a mulher mais humilhada e castigada da colônia.
Teve pelo seu comportamento e ocupação, denunciadas pela inquisição e expressões religiosas no século XVI. Condenada pela Inquisição por lesbianismo.
Mesmo casada, ao ser denunciada e presa, confessou seus casos amorosos com várias mulheres. Foi punida, recebendo a pena de açoite público.
Seu nome foi atribuído ao principal prêmio Internacional dos Direitos Humanos dos homossexuais, o "Felipa de Souza Award"
Já por volta de 1780, a mulher também começou a sofrer prisões e represálias, caracterizando crime sua participação em manifestações Revolucionárias, muitas foram as grandes mulheres que participaram das reformas e revoluções na Europa e nas Américas nesse período.
Teresa de Méricourt- a “Amazona da Revolução”-1789
Andava a cavalo ás vezes com o busto descoberto, e liderou várias manifestações revolucionárias de mulheres. Em 05 de outubro de 1789, esteve à frente da marcha popular de Versalhes, com cerca de quinze mil pessoas, sendo a maioria mulheres. “-É Pão que nos falta, e não Leis”. –gritava ela.
Tereza foi atacada e humilhada por causa de seus costumes livres. Terminou seus dias em 1817, na penumbra da loucura.

Olympe de Gouges- 1793 França
Olympe de Gouges, foi julgada, condenada á morte e guilhotinada em 03 de março de 1793, por “ter querido ser um homem de estado e ter se esquecido as virtudes próprias do seu sexo”. Seu crime maior foi caracterizado pela não aceitação de viver em estado de dependência, não se sujeitando ser objeto de subordinação e submissão.
Eva Maria do Bonsucesso-1811
Eva Maria do Bonsucesso vendia couves e bananas na calçada da antiga rua da Misericórdia, na cidade do Rio de Janeiro. Dia 16 de julho de 1811 uma cabra, tangida por um escravo, abocanhou um maço de couves e uma penca de bananas do tabuleiro. Diante deste episódio, houve um desentendimento com um homem, que a esbofeteou e ela reagiu, a questão foi parar na justiça.

Bárbara de Alencar – 1817
Por ser mulher e nordestina, a grande heroína brasileira Bárbara de Alencar se encontra esquecida na História Oficial. Mas foi um dos libertários que em 1817 retomaram a luta pela Independência, pela qual já tinha morrido Tiradentes. Conspirou em sua fazenda do Crato, articulado com os padres do seminário de Olinda – verdadeiro celeiro de revolucionários.
Na longa luta que se chamou Confederação do Equador e que incendiou os estados nordestinos, ela empenhou toda a sua vida, perdeu todos os seus bens e viu morrer dois dos seus filhos, Carlos de Alencar e Tristão Gonçalves de Alencar Araripe.
Em meio ao pátio do Forte de Nossa Senhora da Assunção, sede do comando da 10ª Região Militar, um porão com grades e placas em homenagem a primeira mulher presa política no Brasil. Bárbara Pereira de Alencar, por ter liderado o movimento que proclamou a República no Crato, em 1817 (cinco anos antes da Independência do Brasil), acabou sendo presa naquele município e em seguida teria sido confinada no calabouço do Forte, em Fortaleza.
Este nome de rua em Fortaleza é uma espécie de Spartacus do nordeste, tendo sido amarrado num pereiro depois de morto e deixado ao relento por oito dias para servir de exemplo aos independentistas.
Presa, humilhada, com a família dispersa, Bárbara de Alencar nunca desanimou e lutou até a morte.
José de Alencar, neto de Bárbara.
Já por volta do ano de 1839, era decretado que a mulher acusada de adultério, também seria considerada prostituta e ser prostituta, era definitivamente ser uma “criminosa Nata!”.
Ana Campista- Século 18
Acusada de adultério foi enviada para o Recolhimento de Nossa Senhora do Bom Parto (RJ), fundado originalmente para abrigar prostitutas em busca de recuperação espiritual, e que passou a servir de abrigo para mulheres abandonadas por seus maridos. Não se conformando com esta situação. Ana provocou um incêndio e fugiu.
Emma Goldman -1887
Nasceu em 27 de junho de 1868 na Rússia. Em 1882, onde se tornou operária influenciada pelo movimento intelectual russo, quando emigrou pra os Estados Unidos acompanhou as lutas operárias pelas 8 horas de trabalho que em 11 de novembro de 1887 provocaram o enforcamento dos quatro militantes anarquistas de Chicago.
Emma se tornou uma das principais anarquistas dos Estados Unidos e em Nova York iniciou sua atividade militante sendo presa por inúmeras vezes. Foi uma grande oradora e fundou a importante revista libertária Mother Earth. Depois de ser expulsa com Berkman e mais duzentos revolucionários e de deixar o seu país por não concordar com a repressão comunista, passou a percorrer vários países lutando pela causa operária, pelos direitos da mulher e pelo amor livre.Escreveu vários livros como Living My Life, Anarchism and Other Essays, Puritanismo e Outros Ensaios.
Por volta de 1900, com a prosperidade oriunda do café, que promoveu a intensificação do comércio e a abertura de indústrias, muitas mulheres passaram a deixar o campo e a dedicar-se ao serviço urbano. Mas o recato tinha que ser preservado, independente da classe social.
A opressão capitalista, chega a atingir a mulher inteligente que mesmo martirizada, vai se tornando cada vez mais atuante e revolucionária.

Rosa Luxemburg-1905
Rosa Luxemburg nasceu em 5 de março em Zamosc, Polônia, na área controlada pelo Império da Rússia. Posteriormente seguiu para Varsóvia, aonde foi educada e tornou-se ativista política. Em 1889, fugindo de perseguições políticas e um mandado de prisão, ela escapa da Polônia. Em 1898 ela migra para a Alemanha e se junta ao Partido Social-Democrata Alemão, posteriormente naturalizando-se alemã. Em 1905 Rosa Luxemburgo retorna à Polônia para participar de uma insurreição contra os czares, sendo depois presa por suas atividades.
NOTA: Rosa Luxemburg é o exemplo da mulher Marxista e intelectualizada, mártirizada pela opressão capitalista, Rosa é o exemplo da mulher inteligente e revolucionária. A mulher modelo.
Patrícia Rehder Galvão – Pagu- 1931
Segundo Geraldo Ferraz, a primeira mulher presa, no Brasil, por motivos políticos. Na sua "volta ao mundo", Pagu foi ao Japão, Estados Unidos, Polônia, China, França e Rússia. E suas viagens renderam frutos, pois acabou sendo a primeira repórter latino-americana a presenciar a coroação do Imperador de Manchúria (China). Através deste evento que ela obteve as primeiras sementes de soja para serem plantadas no Brasil.
Em 34, após sua ida à Rússia, Pagu começou a ficar decepcionada com o comunismo e constatou que os ideais não batiam com a realidade daquele país. Sua análise de Moscou foi: "Gente pobre nas ruas e luxo para os burocratas". Logo em seguida vai a Paris, estuda na universidade de Soborne, mas acaba presa como comunista, sendo obrigada a voltar para o Brasil.
Pagu, uma vez mais, foi trancafiada atrás das grades. Desta vez, por um período de cinco anos.
Seu regresso ao cárcere brasileiro, Pagu sofre bárbaras torturas.
Em 1940, ao sair da cadeia, rompeu definitivamente com o PCB, mergulhando numa crise existencial. “O luar! Há duzentos anos não vejo o luar”, escreve numa das crônicas que assina sob o pseudônimo de Ariel (1942), avisando que se sente gasta e cansada, embora disposta a prosseguir “a luta dos náufragos no alto mar”. Nesta fase, sua principal ocupação é combater, consigo mesma, contra a desistência.
Nise da Silveira- Presa em 1935
Nise da Silveira nasceu em 1906, em Maceió. Foi a única mulher, entre os 156 alunos da Faculdade de Medicina da Bahia, que se graduou em 1926. Em 1927 seu pai morreu, a mãe mudou-se para a casa do pai, e Nise, decidida como sempre, pegou um navio para o Rio de Janeiro. Começou sua carreira em psiquiatria no hospital que na época era popularmente chamado de hospício da Praia Vermelha (hoje Hospital Pinel), em 1933.
Morava num quarto do hospital; uma enfermeira, ao fazer a limpeza do quarto, achou livros socialistas na sua estante, e durante o Levante Comunista de 1935, em plena ditadura Vargas, denunciou-a. Embora fosse apenas simpatizante do comunismo, e não soubesse nada sobre a organização do movimento liderado por Prestes, Nise foi presa; ficou na Casa de Detenção durante um ano e 4 meses. Lá conheceu Olga Benário, Graciliano Ramos e outros participantes do movimento comunista, que se tornaram amigos seus. Diz ter tirado grandes lições deste período. ("Tudo vale a pena, se a alma não é pequena...").
Aurora A. de Los Santos De Silveira- Presa em 1935
“Pioneira espírita uruguaia nasceu no dia 28 de agosto 1890, em Montevidéu. Sofrendo as agruras de prisões e da separação dos filhos revelou a sua fibra de missionária, não deixando jamais o desempenho de uma tarefa apostólica que a impulsionava, e que culminou com a fundação de uma instituição espírita que também se tornou à pioneira naquela pátria irmã.
No dia Cinco de julho de 1935, transferiu seu domicílio para a capital uruguaia, em busca de melhores condições econômicas, passando a trabalhar como costureira. Aurora teve desabrochado a sua mediunidade, passando a fazer curas assombrosas de cegos, paralíticos, cancerosos e de uma série de pessoas desenganadas pela medicina oficial. Sua fama se espargiu e doentes vinham de todos os lugares em busca da cura.
Nessa época o Espiritismo no Uruguai era praticamente desconhecido e Aurora foi acusada de exercício ilegal da Medicina, sendo presa e recolhida a uma prisão de mulheres, onde permaneceu durante 6 meses. Seus filhos foram parar nos mais diversos lugares, inclusive em orfanatos. Terminada a sentença, abandonou a prisão, debilitada e abatida, porém isso não impediu que dentro de poucos dias voltasse ao mesmo lugar, reiniciando o seu trabalho apostólico.
Após grandes lutas conseguiu ver realizado o seu sonho, obtendo personalidade jurídica para uma instituição que fundou, o "Centro Evangélico Espiritual Hacia la Verdad", sociedade beneficente cuja inauguração ocorreu em 31 de maio de 1944, e cuja sede própria foi levantada em 1950, na Avenida General Flores, 4.689, em Montevidéu”.
Nota:- Os dados acima foram obtidos por intermédio de Baltazar Silveira, filho da grande pioneira.
Olga Benário-
Presa e levada para a prisão em Gestapo 1936
De origem Alemã, nasceu em Monique no ano de 1908. Filha de um advogado social democrata e uma dama da alta sociedade.
Olga entrou para a militância comunista aos 15 anos de idade.
O "IV Departamento do Estado-Maior do Exército Vermelho", órgão que realizava a espionagem militar nos outros países, deslocou, em 1935, vários espiões para o Brasil;
- que um desses espiões era Olga Benário, que também usava os nomes de "Frida Leuschner", "Ana Baum de Revidor",
Em 1934, foi designada para assegurar a chegada de Luiz Carlos Prestes, onde lideraria a Intentona Comunista de 1935. Olga e Prestes acabaram se apaixonando e dessa união, Olga engravidou e foi presa em 06 de março de 1936.
Sua filha Anita Prestes nasceu na prisão de Gestapo em 1936 e sua guarda tutelar foi passada para a avó (mãe de Olga).
Olga Benário, morreu em 1942, numa câmara de gás.
Elisa Sorobovsk-1936
ELISE SABOROVSKY, alemã, também conhecida pelo apelido de "Sabo", foi presa no Rio de Janeiro após a Intentona Comunista e, em 1936, deportada para a Alemanha, juntamente com OLGA BENÁRIO. Elise era mulher de Henry
Berguer.
Adalgisa Cavalcanti
Presa pela primeira vez em 1936
Foi comunista a primeira deputada estadual de Pernambuco
Nascida em Canhotinho - PE, em 28 de julho de 1905, filha de pequenos criadores e proprietários de terra. Como a mãe houvesse falecido, aos 11 meses ela é adotada pelos tios, com os quais passa a residir. O tio, plantador, criador e funcionário público, anti-religioso como a esposa, era político e, conforme nos diz Adalgisa, acompanhava sempre o Governo, embora simpatizasse com a Oposição, coisa que escondia, evidentemente.
Em 1934, teve os primeiros contatos com a literatura marxista, que, conforme confessa, era para ela de difícil compreensão. Só havia feito o curso primário, mas o Partido a instara a estudar um pouco mais, e durante alguns meses ela foi ajudada nesse particular por um professor, amigo.
Perseguida por suas idéias e por seu trabalho junto ao Partido, ela foi presa pela primeira vez em 1936. Respondeu a processo, foi condenada, passou quatro meses na Colônia Penal do Bom Pastor. Ao sair dali, viveu na clandestinidade, até a legalização do Partido, com o fim do Estado Novo. Passa então a integrar o Comando do Diretório dos Comunistas em Pernambuco e se torna sua candidata preferencial.
Em junho de 1954 ela confessa ter sido presa nove vezes. Em nenhuma dessas prisões sofreu tortura ou espancamento, como acontecia com outros membros do Partido, mas somente "provocações e ofensas morais", às quais respondia à altura, como confessa. Ao todo, segundo testemunho de sua sobrinha, por vinte vezes Adalgisa sofreu a humilhação da prisão. Adalgisa que se casou em 1922, que nunca teve filhos, tornou-se deputada em 1947: teve 2.298 votos, superando assim vários candidatos de outros partidos influentes. Adalgisa Rodrigues Cavalcanti foi uma parlamentar atuante.
Ao todo, Adalgisa Cavalcanti esteve presa durante vinte períodos, segundo afirmou na sessão da Assembléia que a homenageou, no dia 15 de setembro de 1997, sua sobrinha, Luciene de Freitas Brito.
Noemia Mourão- 1936
Di Cavalcanti casa-se com a pintora Noemia Mourão e, em 1932, publica o álbum “A Realidade Brasileira” uma série de 12 desenhos satirizando o militarismo da época. Em 1936, esconde-se na ilha de Paquetá e é preso com Noemia. Em 1938 passaram a morar em Paris, porém quando retornaram ao Brasil, ocorre novamente a prisão no Rio de Janeiro.
Carmen de Alfaya- 1937
CARMEN DE ALFAYA, Argentina, casada com RODOLPHO JOSÉ GHIOLDI, após a Intentona Comunista foi presa e, durante a II Guerra Mundial, deportada para a Argentina, onde vivia em 1993.
Raquel de Queiroz
Presa em 1937
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, Ceará, em novembro de 1910.Viveu parte de sua infância na capital do estado e parte, no interior, na fazenda dos pais. Depois da seca de 1915, que atingiu a propriedade familiar, mudou-se para o Rio de janeiro, onde ficou por pouco tempo, transferindo-se para o Belém do Pará.Ingressou no jornalismo como cronista, em 1927. Em 1930, lançou seu primeiro romance O Quinze que recebeu o primeiro prêmio, concedido pela Fundação Graça Aranha. Em 1931, veio ao Rio de Janeiro para recebê-lo, onde travou contato com o Partido Comunista Brasileiro. Nos anos seguintes, participou da ação política de esquerda, pela qual foi presa em 1937. Sem abandonar a ficção, continuou colaborando regularmente com jornais e revistas, dedicando-se à crônica jornalística, ao teatro e à tradução.
Nos anos 60, suas posições políticas ficaram cada vez mais conservadoras, a ponto de ter sido uma das poucas figuras intelectuais que apoiou indiscriminadamente o regime militar. Em 1977, rompendo velho tabu, foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras.’
Eneida de Moraes
Ela esteve presa em Ilha Grande, uma das piores fases de sua vida.
O que era a prisão para mulheres militantes, simpatizantes ou companheiras de maridos, pais, noivos ou amigos envolvidos de algum modo com o PC, relata-nos Eneida de Moraes, escritora paraense, autora de Aruanda e de Cão da Madrugada.
Em Aruanda, Eneida conta como a solidariedade mantinha otimista o bando de mulheres que enchia pavilhões e celas em prisões do Brasil do Estado Novo. Apesar do espaço diminuto, demasiado quente no verão, demasiado frio no inverno, que eram obrigadas a ocupar, sempre lembrando, em meio ao silêncio e à angústia, "que a vida lá fora devia andar linda". Em turnos alternados, faziam ginásticas. Escreviam desabafos sobre as paredes. Cantavam, contavam-se histórias, falavam de suas famílias, dos filhos pequenos que haviam deixado (onde estariam eles agora, quem estaria cuidando deles?), repartiam umas com as outras o saber de que dispunham. Como uma certa Valentina, que ensinava Inglês às colegas. Como Nise Silveira, que dava lições de Psicologia, num Pavilhão das Primárias, no Rio. E Eneida escreve:
"De um lado e do outro da sala, enfileiradas, agarradas umas às outras, vinte e cinco camas. Quase presas ao teto, quatro janelas fechadas por umas tristes e negras grades. Encostada à parede, uma grande mesa com dois bancos. Ao fundo da sala, os aparelhos sanitários. Por maior que fosse nossa luta para mantê-los limpos e desinfetados, nunca conseguimos fugir do cheiro forte que exalavam”.
"Na casa de Detenção éramos sete mulheres numa cela. Resolvemos dar uma certa organização aqui, criando um sistema de vida tão disciplinado que não sentíssemos tanto a prisão (...) Tínhamos hora de estudo, de aula, de lazer, de ginástica, de cuidados com a higiene local etc. O que eu sabia ensinar ensinava: Francês, Biologia, noções de Higiene”.
"Vinte e cinco mulheres, vinte e cinco camas, vinte e cinco milhões de problemas. Havia louras, negras, mulatas, morenas; de cabelos escuros e claros; de roupas caras e trajes modestos. Datilógrafas, médicas, domésticas, advogadas, mulheres intelectuais e operárias. Algumas ficavam sempre, outras passavam dias ou meses, partiam, algumas vezes voltavam, outras nunca mais vinham”.
Os verdugos fascistas conduzem as mulheres ao local de
fuzilamento. Gestapo em Liepaja, em dezembro de 1941.
Clara Scharf- Por volta de 1950
Clara Scharf amargou sua primeira prisão política ainda nos tempos de Getúlio Vargas. Após o golpe militar de 1964, o companheiro de Clara, Carlos Marighela, foi assassinado “no auge da tortura” e ela, cassada por dez anos, passou para a clandestinidade.
Militância
Feminista desde os anos 50, Clara Scharf acha que a situação da mulher “mudou muito”. Mas lembra que "continuam a existir, infelizmente, o machismo, a discriminação e a desigualdade entre homem e mulher”. Com um riso cheio de energia que não denuncia os 78 anos de idade, comenta: “O bonito é que as mulheres nunca pararam de lutar e por isso elas mexem com o ser humano”.
Clara foi filiada ao Partido Comunista Brasileiro de 1945 a 1960 e entre os "períodos mais difíceis da vida" cita a fase final do governo Getúlio Vargas, nos anos 50. Teve a casa invadida e destruída no governo Jânio Quadros, mas o que considera "o pior" ocorreu nos chamados "anos de chumbo", que culminaram, para ela, com o assassinato do companheiro em 1969 e com os nove anos de exílio que se seguiram. “Começaram a prender, matar e torturar já na antevéspera do endurecimento da ditadura militar, por volta de 1968. Foi uma coisa infame, com todas as prisões, torturas e mortes, e ninguém podia se manifestar, só na clandestinidade", lembra Clara.
No depoimento à Rádio Nacional da Amazônia, ela também lamentou não ter sido mãe: "Não me foi possível ter uma vida familiar durante as ditaduras". Mas Clara Scharf ajudou a criar o filho do companheiro, Carlinhos Marighela, "que está vivo e cujos filhos eu considero meus netos". Na opinião da feminista, "tudo o que você faz em defesa do ser humano, é vida; a paz é vida, desde que esta paz defenda a saúde, a liberdade, a terra e os direitos humanos: tudo que afeta a vida tem a ver com a segurança humana”.
Fonte Parcial:- Radiobras -05/07/2004
Rosa Parks- Presa em 1955
Em 01 de dezembro de 1955, Rosa Parks se recusou a dar seu lugar em um ônibus sob o regime de leis em segregação racial à um homem branco no estado de Alabama na cidade de Montgomery. Sua prisão alavancou um boicote em Montgomery que culminou com o sucesso da dessegregação racial em todos os ônibus dos Estados Unidos.
Rosa Parks recebeu várias nominações e prêmios por sua coragem. Ficou conhecida como a "Mãe do Movimento pelos Direitos Civis" nos Estados Unidos. Em 1996, ela recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade e em 1999, recebeu a Medalha de Ouro do Congresso Norte Americano.
Naíde Teodósio- Presa em 1964
Professora Naíde Teodósio, outro extraordinário exemplo de mulher pernambucana, professora, pesquisadora de renome, cientista, presa em 1964 por ter trabalhado para o Governo de Miguel Arraes.
Nascida em Sirinhaém, interior pernambucano, de família pobre, Naíde, através do esforço do seu pai, conseguiu estudar internada no Colégio da Sagrada Família, naquele município, que foi, para ela, sua iniciação no mundo da cultura, aprendendo até a falar bem o francês.
Contra a vontade do seu pai, resolveu, audaciosamente aos 16 anos, vir para o Recife, a fim de trabalhar e estudar, conduzindo duas irmãs mais novas. Naíde não aceitava casar e ser simplesmente dona-de-casa, como era o destino das mocinhas daquela época. Resolveu estudar Medicina, numa época em que o curso era considerado só para homem.
Naíde, estudante, apaixonou-se pelo médico Bianor Teodósio e casou-se com ele em 1942. Pelo amor ao marido, trancou, temporariamente, a matrícula na faculdade e foi residir em Santarém, no Pará, em plena Segunda Guerra Mundial.
Com Bianor teve 4 filhos. Sua filha Marta e sua neta Naíde são médicas.
Depois de se formar em Medicina, decidiu ser professora. Foi Mestra Adjunto IV, Livre Docente em Fisiologia da Faculdade de Medicina da UFPE. Foi discípula dos professores Euler e Houssay – que receberam Prêmio Nobel de Medicina. Trabalhou e foi amiga de Nelson Chaves e decidiu ser, especialmente, pesquisadora no campo da nutrição. Desenvolveu um alimento que contribuiu para diminuir a desnutrição infantil no Nordeste. Numa de suas palestras falou que “a nutrição está inserida entre as ciências sociais. Este leque de ramos da ciência envolvidos no estabelecimento do estado nutricional é o mesmo implicado nos índices de morbidade e de mortalidade da criança. Eis porque estudar as causas da desnutrição e da mortalidade infantil significa investigar os fatores que determinam a qualidade de vida da comunidade, em seus múltiplos aspectos”.
Era simpatizante do Partido Comunista Brasileiro, apesar de nunca ter se filiado ao PCB. Na época em que era proibido falar em comunismo, Naíde era amiga de Paulo Cavalcanti. Mas sua amizade com o ex-governador Miguel Arraes e sua ligação com os comunistas foram a “gota d'água” durante o golpe militar de 1964 para ser presa durante um ano na extinta Casa de Detenção do Recife, acusada de subversão. Seu marido, que não tinha nenhuma participação política, também foi preso durante seis meses. “Eu e Bianor ficamos presos no mesmo período de Gregório Bezerra”, conta. Naíde lembra a prisão do seu filho Manoel Teodósio – Mano Teodósio, como era conhecido –, que foi barbaramente torturado. “Sofri muito, o clima policialesco tem dessas coisas. A prisão me ajudou a conhecer melhor o ser humano. Ensinei matemática e francês, quando estava presa, aos policiais estúpidos, mas coitados, eram ignorantes”, diz Naíde, sem demonstração de rancor. Mano morreu no final da década de 80, depois de uma longa militância política.
O seu espírito de guerreira não aceitou a aposentadoria compulsória quando completou 70 anos de idade. “Eu não fui aposentada, me aposentaram. Mas como tenho saúde vou continuar trabalhando”. E ficou freqüentando a faculdade, atuando na pesquisa, dando aulas de pós-graduação e orientando teses, sem receber remuneração. “A despedida é termo de intromissão espúria em meu mundo afetivo, no qual figura nossa Universidade em plano apenas superado pelo amor à minha família, porém em plano igualitário àquele ocupado pelo nosso povo sofrido, a quem aprendi a amar, sentindo a necessidade imperiosa de servir, de doar-me, desde a minha vida de criança”, disse em pronunciamento no dia do aviso da aposentadoria.
“Considero-me entre aqueles cuja lucidez indicará o exato momento de se afastar”, sentenciou.
Sem parar de trabalhar, Naíde assumiu também um compromisso em 1993, com Dom Helder Câmara, na Campanha Contra a Fome e á Miséria. Hoje, com a saúde um pouco fragilizada, aceita a idéia da aposentadoria.
Apesar das perseguições políticas durante o golpe de 1964, Naíde Teodósio conseguiu vencer todos os obstáculos em sua trajetória universitária. Formou mais de uma geração de cientistas, consolidando grupos de pesquisa na área de Nutrição.
Fonte de Pesquisa
1. Eneida, Aruanda, José Olympio, Rio de Janeiro, 1957.
Hilda Gomes da Silva- Presa em 1968
“Hilda Gomes da Silva foi presa com os dois filhos e o bebê de quatro meses. Esposa de Virgilio Gomes da Silva, ex-operário da indústria química e dirigente da ALN. Diretor do Sindicato dos Químicos, depois de ter sido preso, Virgilio foi para o Uruguai, onde ficou quase um ano. A partir de 1968, a vida familiar deixou de ser tranqüila. O pai vivia clandestino, passava dia sumido e eles mudavam de casa muito freqüentemente. Até que Virgilio decidiu providenciar a saída de sua mulher e filhos do país.
Conforma declarou um dos filhos, lembra-se que a casa foi invadida por policiais que procuravam por seu pai. Arrebentando tudo. Não sobrou nada... A data provável da morte de Virgílio é 29 de setembro, segundo depoimento de companheiros presos no mesmo período. Embora a família ainda não soubesse, ele já estava morto quando foram encontrados em São Sebastião.
As três crianças foram levadas ao Juizado de Menores no bairro do Tatuapé. Somente dois meses depois de sair do juizado é que souberam que a mãe estava no presídio Tiradentes. Ela ficou presa por nove meses, dos quais boa parte incomunicável. Um dos requintados instrumentos de suas sessões de tortura eram as gravações da tortura do próprio marido. Após a mãe ser solta, em 1970, a família tentou por algum tempo levar uma vida normal, mas sofreu perseguições. A situação complicou-se e, sem emprego, Hilda resolve ir embora com os filhos.
Saíram do Brasil em março de 1972”.
Fonte de pesquisa:- *Rose Spina é subeditora de Teoria & Debate.

Rose Nogueira
Membro do grupo Tortura Nunca Mais e presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
Os pássaros gosta da casa de Rose Nogueira. As árvores, flores e plantas no quintal são um convite para as aves, que pousam nas mesas, sem medo da anfitriã. Esse ambiente de paz e tranqüilidade contrasta com o passado, e o presente, de muita luta dessa mulher que foi presa política aos 23 anos, enfrentou o Dops – o esquadrão da morte da ditadura militar –, dividiu a cela com a atual ministra Dilma Rousseff, é citada no livro Batismo de Sangue, do Frei Betto, e foi colega de profissão de Vladimir Herzog (morto em tortura).
Presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e membro do grupo Tortura Nunca Mais (SP), Rose Nogueira é jornalista há 44 anos e já trabalhou na editora Abril, no jornal Folha de S. Paulo e nas emissoras Globo, Bandeirantes e Cultura. Os dez meses de prisão pela ditadura não tiraram suas características mais marcantes: sua doçura e sua vontade de melhorar o mundo.
No quintal de sua casa, Rose Nogueira criou a praça Che Guevara, onde cuida das mudas que, depois de crescidas, ela planta nas praças do bairro onde mora. Como se não bastasse, Rose ainda encontra tempo para ser roteirista e diretora.
Fui presa política. Em 1969, na ditadura, fui presa pelo “esquadrão da morte”, o DOPS, e fui muito torturada. Eu não pude mais ter filhos, por aí você imagina o que eu passei. Eu tinha 23 anos, meu bebê tinha um mês. Fiquei dez meses presa, dois anos e meio em liberdade vigiada e, depois disso tudo, fui absolvida. Então, eu não quero que ninguém passe pelo que eu passei.

Maria Augusta Carneiro Ribeiro-Presa em 1968 pelo Dops.
Maria Augusta Carneiro Ribeiro (“Guta”, “Zaza”)
Nascida em 1947, à mineira de Montes Claros foi aos EUA em 1964, num intercâmbio de estudantes.
Ao regressar, ingressou na Faculdade Nacional de Direito e foi participar do movimento estudantil no Centro Acadêmico Candido de Oliveira, o "CACO", iniciando sua militância no PCB.
Defensora da luta armada ingressou na Dissidência do PCB na então Guanabara (DI/GB), mais tarde transformada no MR-8. Em Out 68, foi presa pelo DOPS.
Em 06 Set 69, foi a única mulher dentre os 15 militantes comunistas banidos para o México, em troca da vida do embaixador dos EUA, que havia sido seqüestrado dois dias antes. Do México, foi para Cuba, onde fez um curso de guerrilha. Em Nov 72, já morando no Chile, participou de uma assembléia do MR-8, que terminou num "racha": de um lado os "massistas", que continuaram (e até hoje continuam) com a sigla MR-8, e do outro, os "militaristas", defensores da continuação da luta armada, que adotaram a sigla "MR-8/CP", de "Construção Partidária". Este último grupo, mais radical, teve a liderança de "GUTA" e de Vladimir Palmeira, mas veio a dissolver-se no ano seguinte.
Passou pelos seguintes países: Itália (onde fez uma cirurgia dentária), Argélia e Suécia, onde teve um filho e formou-se em Pedagogia pela Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Upsala.
Regressou ao Brasil após a anistia de 1979 e foi trabalhar na Companhia Vale do Rio Doce.
Em 1999, trabalhava com seu marido na Editora da Rio Graphis.
Em 2002, era a diretora de Produção e Comercialização da Fundação Santa Cabrini, um órgão da Secretaria de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que atua no sistema prisional. Em 08 Jan 03, a ex-guerrilheira foi nomeada Ouvidora Geral da Petrobrás.
Tiana-1969
Ela tinha sido da Juventude Universitária Católica (Equipe Nacional) já tinha se desligado da Ação Popular e não encontrava acolhida nas organizações existentes, (ALN). Um amigo, no entanto, destruiu tudo o que havia de documentos, pois estava no apogeu do AI 5, (Ato Institucional do Governo Ditatorial). No entanto, restaram o último documento da ALN e o retrato que Tiana, havia presenteado este amigo, com seu nome atrás. Estava evidente não só que iam prendê-la. A dor dessa mãe em deixar o filho que amamentava foi muito grande... O Amigo, Tiana e o marido foram levados ao DOPS, numa sala de tortura. Ela foi torturada na frente do esposo, no pau-de-arara. Ela estava relaxada, fruto das técnicas de Ioga, PERCEBENDO, o mandante das torturas começou a denunciar isso pedindo para aumentar a intensidade dos choques. Sua experiência como torturador o levou à conclusão de que pessoas com exercício de técnicas orientais agüentavam mais a tortura e as dores. Tiana não respondia nada. Apenas rezava o Credo inúmeras vezes, até não agüentar mais e desmaiar.

MARÍLIA GUIMARÃES FREIRE ("MIRIAM")
- Foi militante do Comando de Libertação Nacional (COLINA) e da Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares (VAR-P).- Era casada com FAUSTO MACHADO FREIRE ("RUIVO". "WILSON"), militante do COLINA, que participou de diversos assaltos e foi preso em 28 Mai 69 (banido em 15 Jun 70).
- Em 01 Jan 70, levando seus dois filhos menores, participou, com outros 5 militantes da VAR-P, do sequestro do avião Caravelle da Cruzeiro do Sul, sequestrado logo apos decolar de Montevideu e levado para Cuba.
Lucia Murat
“Eu vivi a geração anos sessenta, vivi a ditadura, eu fui presa, e isso me marca. Eu não vou negar a minha vida nem as minhas preocupações. A minha preocupação é política, no sentido mais amplo do termo. O problema é que a política foi reduzida a uma disputa eleitoreira e marketeira e as pessoas não querem entender o conceito de política no seu sentido mais amplo, filosófico, de idéias.
Eu vivi uma geração que foi a geração da utopia. A minha filha estava lendo sobre os anos sessenta e aí ela falou ‘pô, assim até eu’. Eu não fui à frente de meu tempo, eu fui parte de do meu tempo, com muito orgulho. A geração 68 botou para quebrar em muitos sentidos, foi à revolução sexual, o costume, o modo de viver e se vestir. E tinha a utopia de um novo mundo, uma coisa muito mais aberta do que apenas de esquerda e direita. Mesmo que no Brasil a situação da ditadura não levasse a uma discussão tão radicalizada como foi na França, a gente discutia também”.
Fonte:-
http://www.cenaporcena.com.br/entrevista3.asp
Vera Sílvia Magalhães – 1970 (Loura dos Assaltos)
Talvez a mais famosa - entrou para a memória coletiva por conta de uma façanha: o seqüestro do embaixador dos Estados Unidos da América, Charles Burcke Elbrick, a 4 de setembro de 1969. Era, então, a Dadá, da Dissidência Comunista da Guanabara, mais conhecida como MR-8, e atendia, para a mídia e para a repressão política, pelo apelido de "Loura dos assaltos", justo a que viria a ser mulher de Fernando Gabeira.
Uma mulher charmosa, chique e irreverente socióloga e economista Vera Sílvia Magalhães, em 1996, lotada na sala 518 da Secretaria de Planejamento e Controle do Estado do Rio, onde exercia a função de planejadora urbana. Vivia até 96, num apartamento amplo da Praia do Flamengo, onde mais uma vez estava se recuperando dos problemas de saúde que atribui ao tiro que levou quando foi capturada (a Seis de março de 1970) e às torturas que sofreu nos três meses em que amargou a condição de presa política. Ela ainda vibra por dentro quando lembra uma resposta que deu aos torturadores em plena aflição, pendurada no pau-de-arara e tomando choque elétrico: "Minha profissão é ser guerrilheira". O seqüestro do embaixador americano visava marcar posição, assustar a ditadura e, principalmente, libertar os presos políticos, entre eles os líderes estudantis Vladimir Palmeira e José Dirceu. Vera foi responsabilizada pelo levantamento de tudo o que cercava o embaixador Elbrick.
4 de Dezembro de 2007
A economista Vera Sílvia Magalhães, única mulher a participar do seqüestro do então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em setembro de 1969, morreu nesta terça-feira, no Rio de Janeiro, aos 58 anos, de câncer. Mãe de um rapaz de 29 anos, Vera Sílvia Magalhães esteve internada até a semana passada. Morreu em casa.
Eleonora Menicucci Oliveira- 1970
Eleonora Menicucci de Oliveira e Ricardo Prata Soares, ambos então militantes da Polop (Política Operária), vindos de Minas Gerais, viviam em São Paulo na clandestinidade, quando, em 1970, Ricardo foi preso. Eleonora foi presa no dia seguinte com a filha Maria de um ano e meio, quando se dirigia à casa de um tio, para que este a levasse a Minas para viver com a avó.
Durante o período em que esteve no aparelho de repressão, Maria não ficou na cela com a mãe. Vez e outra era levada à presença de Eleonora. Seu aparecimento era sempre um elemento de ameaça na tortura de sua mãe.
Ao ser encontrada pela família, foi levada para Belo Horizonte, onde morou com a avó até 1974, quando seus pais saíram da prisão. No período em que os pais estiveram presos em locais separados, à mãe no Hipódromo e o pai no Carandiru, a situação incômoda e constrangedora era dupla.
Dulce Maia-1970
Dulce Maia, militante da VPR que participou de assaltos à banco e atentados a bomba. Irmã da unanimidade nacional Carlito Maia, foi das primeiras mulheres a pegar em armas - em ações de absoluto atrevimento - e é hoje, recém-emigrada para a deliciosa Cunha (SP), uma prova viva de que esse tempo horrível, como definiu o presidente Fernando Henrique Cardoso, realmente existiu. Dulce constata o fato recente de que a guerrilha está aí, revisitada, e desta vez na ofensiva, cobrando do Estado reparações morais e indenizações por conta de seus mortos e desaparecidos, entre eles quase meia centena de mulheres.
A Lei 9.140, que propiciou essa virada de página, foi sancionada no ano passado por um presidente da República que algumas vezes viu de perto, visitando presos políticos, o estado degradante a que os torturadores da ditadura reduziam os "terroristas" presos, reservando, às mulheres, requintes de crueldade sexual. Dulce Maia, um misto de agitadora cultural e guerrilheira urbana da organização Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foi uma das presas a receber a visita do sociólogo Fernando Henrique Cardoso nos idos de 1969.

Abaixo Dulce Maia Fonte Revista TPM
Dulce, que mora com dois filhos adotivos, não gosta de ficar sozinha. “A tortura me deixou com a cabeça meio ruim. Me cerco de gente e de coisas para não parar”, conta, sem mágoa nos olhos. Aos 70 anos e muito elegante, ela se recusa a aceitar o rótulo de terceira idade. Isso porque não tem cabeça de velhinha, tampouco se veste como tal. E, quando começou a pegar em armas – um caminho natural, segundo ela –, confundia os policiais. Era difícil acreditar que aquela moça de cabelo arrumado e roupas chiques tivesse uma arma na bolsa que carregava. Mas, sim, ela tinha.
Entre assaltos e palcos
Participou de inúmeras ações, principalmente assaltos a banco. Além da guerrilha, atuava no Teatro Oficina, sob o comando do jovem José Celso Martinez Corrêa. Nem os atores do grupo sabiam que Dulce era guerrilheira. Até que a vida agitada ruiu, num dia em que ela decidiu passar pela casa dos pais. Foi presa na frente da mãe e passou um ano e meio na cadeia. Seus cabelos ficaram brancos da noite para o dia, depois de inúmeras torturas a que foi submetida. Ela não pensa em pintá-los. “Faz parte da minha história”, diz. E carrega, também, apesar de tudo, boas lembranças da cadeia. “Existia muito amor. Quando eu fui embora, todas as presas cantavam: ‘Minha jangada vai sair pro mar’... Foi lindo.”

Maria do Carmo Brito – Presa em 1970
Nos dias 16/04/70 e 18/04/70 foram presos no Rio de Janeiro, Celso Lungaretti e Maria do Carmo Brito, ambos militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), uma das organizações comunistas que seguia a linha cubana.
Ao serem interrogados os dois informaram que desde janeiro, a VPR, com a colaboração de outras organizações comunistas, instalara uma área de treinamento de guerrilhas, na região de Jacupiranga, próxima a Registro, no Vale da Ribeira, no Estado de São Paulo, sob o comando do ex-capitão do Exército, Carlos Lamarca.
Hoje, Maria do Carmo vive com o terceiro marido, ex-companheiro de guerrilha, em um apartamento em Laranjeiras, no Rio de Janeiro. E diz que deve a veia militante a alguém de 86 anos. Trata-se de dona Angelina, sua mãe. Uma senhora que, logo ao abrir a porta do apartamento onde mora com a filha, avisa que também esteve no exílio e participou da luta contra a ditadura. “Se não militar por algumacoisa, morro”, diz a filha, que hoje trabalha com inclusão de deficientes no mercado de trabalho e na sociedade.
Dilma Vana Rousseff–
Presa em 1970 em São Paulo
Ou ("ESTELA", "LUIZA", "PATRICIA", "WANDA")
- Em 1967, era militante da Política Operária (POLOP), em Minas Gerais, junto com seu marido, Claudio Galeno de Magalhães Linhares ("Aurelio", "Lobato"). Saiu da POLOP e, também com seu marido, ingressou no Comando de Libertação Nacional (COLINA), tendo sido eleita, em Abr 69, quando atuava na então Guanabara, membro do seu Comando Nacional.
- Acompanharam a fusão entre o COLINA e a Vanguarda Popular Revolucionária, que deu origem à Vanguarda Armada Revolucionárias Palmares (VAR-P). Em Set 69, participou como convidada - só com direito à voz - do I Congresso da VAR-P, realizado numa casa em Teresópolis. Nessa ocasião, Darcy Rodrigues, um ex-sargento do Exército oriundo da VPR, tentou agredi-la, sob a ameaça de Dilma não mais poder participar das ações armadas. Na ocasião, recebeu a proteção de Carlos Franklin Paixão de Araújo e com ele foi viver e militar no Rio Grande do Sul e, logo depois, em São Paulo, onde foi presa em 16 Jan 70.
- Foi Secretária de Estado de Minas, Energia e Comunicações do Governo do Rio Grande do Sul.
-E Ministra das Minas e Energia.
Vera Silva Araújo-Presa em 1970
VERA SILVIA ARAUJO MAGALHÃES (“ANDREIA”, "CARMEN", "MARTA", "ANGELA", "DADA")
- Organização Terrorista: MR-8
- Em Abr 69, participou da III Conferência do MR-8
- Em 16 Fev 69, participou do seqüestro do Embaixador dos EUA. (Ver "Recordando a História)
- Em 16 Fev 70, estouro do "aparelho"da Rua Montevideu, 391/201, Penha-GB, baleado o policial Daniel Balbino de Menezes, fugiu com outros terroristas.
- Em 06 Mar 70 foi presa, levando um tiro de raspão na cabeça. Falou bastante.
- Em 15 Jun 70, foi um dos 40 militantes comunistas banidos para a Argélia, em troca do Embaixador da Alemanha, seqüestrado em 11 ii Jun 70, no Rio de Janeiro, pela VPR e ALN ( Ver "Recordando a História)
- Em 78, em Paris nasceu seu filho Felipe.
- Atualmente, integra a ONG Alto -Lapa –Santa.
Beth Mendes-Presa em 1970.
Elizabeth Mendes de Oliveira (“Rosa” – Beth Mendes)
- Era militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmar (VAR-P) em São Paulo.
Atuava no Setor de Inteligência e não foram poucas as reclamações de diversos dirigentes dessa organização comunista de que, em vez de bem desempenhar suas funções, costumava levar, para dentro do seu setor, seus próprios problemas pessoais.
- Foi presa em 29 Setembro 70.
- Em Ago 85, já como deputada federal, enviou uma carta ao então Presidente da República, José Sarney, denunciando que, 15 anos antes, havia sido torturada pelo então adido do Exército no Uruguai, Cel Carlos Alberto Brilhante Ustra.( Ver Revanchismo)
- Atualmente, é atriz da TV GLOBO já foi presidente da FUNARJ, nomeada pelo ex-governador GAROTINHO.

Safiya Yakubu Hussaini- 2001
Safiya (Safiyatu ou Sufiya) Yakubu Hussaini nasceu em 1966, casou aos doze anos e, aos 35 anos de idade, ou seja, em 2001, foi condenada à morte pelo tribunal islâmico de Gwadabawa no estado de Sokoto. Segundo a lei vigente nesse estado, qualquer pessoa pode ser condenada à morte se for comprovado ter cometido adultério.
Para a lei islâmica, pode decorrer o período de até sete anos desde o momento da concepção até o nascimento da criança sem que a gravidez configure crime de adultério. Safyia teve o quinto filho após um ano de divorciada e estaria, portanto, acobertada pela lei.
Em 18 de março de 2002, Safiya foi inocentada, principalmente porque o tribunal considerou que o crime, o adultério cometido, fora praticado em 1998, antes de a Sharia ser introduzida no estado de Sokoto.
Amina Lawal Kurami -2002
Em 22 março de 2002, pouco depois de Safiya Hussaini ter a sua sentença de morte anulada, Amina Lawal Kurami, 30 anos, divorciada, mãe de três filhos foi julgada e condenada à morte também por apedrejamento. Ela foi considerada adúltera pelo tribunal religioso da cidade de Bakori, estado de Katsina, pois não estava casada no momento em que concebeu a filha Walisa. No primeiro julgamento, Amina não teve assistência de um advogado. Em 19 de agosto de 2002, uma corte rejeitou o primeiro pedido apelação contra a sentença de morte. Nova apelação foi encaminhada para uma corte superior.Em 25 de setembro de 2003, o Tribunal Islâmico de Katsina anulou a sentença de morte, por apedrejamento, de Amina Lawal Kurami.


Trabalho de Pesquisa desenvolvido para o Projeto zaP! Pela Humanista, Jornalista, Pesquisadora, Escritora e da Idealizadora do zaP: Elizabeth Misciasci

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